Christina Barboza
O Arquivo do Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas é particularmente rico para estudos sobre as expedições astronômicas organizadas para observação dos eclipses totais do Sol visíveis no Brasil em 1940 e 1947 e, em consequência, para a compreensão de diversos aspectos científicos, políticos e sociais relacionados à história da astronomia na primeira metade do século XX.
Expedições astronômicas, de diferentes países, solicitaram permissão para vir observar o eclipse total do Sol de 1o de outubro de 1940, visível na região nordeste do Brasil. Como o fenômeno ocorreu logo após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a maioria delas não chegou a se realizar, mesmo tendo recebido a autorização do CFE. Apenas os EUA, que ainda não haviam entrado em guerra, enviaram duas expedições.
Os norte-americanos instalaram-se nas cercanias de Patos, na Paraíba. Uma das expedições, da Universidade de Brown, era chefiada por Charles Smiley, e formada por Arthur Hoog e Alice Farnsworth, esta última diretora do Observatório de Williston. A outra, da National Geographic Society (NGS), era composta por cinco cientistas – entre eles o Padre Paul McNally, na época diretor do Observatório Astronômico da Universidade de Georgetown – e por Richard Stewart, fotógrafo. A NGS possuía longa tradição na organização e divulgação de expedições científicas, por meio de sua revista. Como choveu no momento do eclipse, a revista não publicou reportagem sobre sua expedição ao Brasil, o que ressalta a importância da documentação do Arquivo do CFE.
Para o eclipse total do Sol visível em 20 de maio de 1947, novamente vieram ao Brasil diversas expedições. A maior delas, organizada pelo National Bureau of Standards, com o apoio da NGS e da Força Aérea Norte-americana, era liderada por Lyman Briggs, também responsável pelo primeiro projeto de desenvolver uma bomba atômica nos EUA. Foi formada por 55 membros, entre cientistas, oficiais, e dois repórteres de uma rede de TV. A viagem foi cuidadosamente organizada, e envolveu até a construção de uma pista de pouso em Bocaiúva, Minas Gerais, próxima ao local onde o eclipse seria observado.
Em plena Guerra Fria, a Academia de Ciências da União Soviética também enviou uma expedição ao Brasil, a qual instalou seus equipamentos astronômicos em Araxá. Esta expedição contava com 32 membros, entre cientistas de diferentes áreas, e foi chefiada pelo russo Alexandre Mikhailloff, diretor do Observatório de Moscou e vice-presidente da Academia de Ciências. Um dos principais objetivos astronômicos de ambas as expedições, americana e soviética, era verificar a Teoria da Relatividade de Einstein, como já se tentara no eclipse em Sobral, em maio de 1919.