Priscila Faulhaber
Mariane Martins
Dentre os pedidos apresentados ao Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil, cinquenta e seis dossiês referem-se exclusivamente a solicitações de filmagens, de diversos países. Destes, destacam-se as norte-americanas e o seu exame ajuda a entender como o governo brasileiro direcionou a produção das imagens sobre o Brasil para fins propagandísticos pautados na promoção dos valores nacionalistas.
A documentação do CFE refere-se a filmes que ainda não puderam ser localizados, porém certamente foram realizados, como apontam recortes de jornais contidos nos dossiês. No caso desse tipo de expedição, muitas vezes o CFE só tomava conhecimento sobre sua realização através dos jornais, quando as equipes de filmagem já se encontravam em ação no campo.
Geralmente as expedições retornavam ao país de procedência sem deixar no Brasil cópias do material filmado. Alguns filmes transformaram-se, no exterior, em películas editadas para fins educativos, recreativos e propagandísticos. Nas décadas de 1930 a 1950, crescia a importância da indústria cinematográfica, que se transformou em instrumento da “política de boa vizinhança” entre os Estados Unidos e o Brasil. Para alcançar seus objetivos políticos e econômicos e também uma maior ingerência no consumo e nas práticas sociais dessas nações veiculava-se, além da visão meramente exótica do Brasil, a imagem de uma terra fértil para investimentos.
A aparente concordância entre órgãos do governo brasileiro encobre tensões que também se observavam nos dilemas dos projetos nacionalistas ambiguamente reféns dos olhares estrangeiros sobre o Brasil e que envolviam colaborações na realização de tais filmes produzidos em tempos de guerra. O recurso à propaganda ganhava crescente importância no cenário internacional.