Marta de Almeida
O conhecimento geográfico e antropológico sobre o meio interferiu nos destinos da nação brasileira e no imaginário social do país. A visão de que o país detinha uma exuberante natureza espalhada por grande extensão territorial se propagou mundo afora, despertando o constante interesse por parte de cientistas, artistas, cineastas, jornalistas entre outros estrangeiros em adentrar não só o Brasil como os demais países do continente latino-americano. Em sua maioria europeus e norte-americanos, os viajantes tiveram que mediar suas atuações com os agentes locais, quer sejam personalidades públicas, quer sejam instituições.
No século XX, muitos investimentos estrangeiros foram realizados – sobretudo pelos Estados Unidos – nas áreas de Antropologia, Arqueologia, Geografia, Medicina, Agricultura, Educação e Jornalismo, com o intuito de cooperar para o conhecimento sobre a “natureza desconhecida” da América do Sul e ampliar seu papel nas relações econômicas e políticas no continente, intensificando a aproximação cultural e científica. Além da organização de expedições, tal cooperação também se concretizou através de missões científicas que atraíram diversos intelectuais e cientistas brasileiros para realizar estágios e cursos no exterior, por meio de bolsas de estudos, convênios institucionais e programas de pesquisa. Essa relação de dupla direção possibilitava que os cientistas daqui tivessem participação decisiva nas discussões e reivindicações sobre políticas de proteção à natureza e ao patrimônio nacional.
Podem-se perceber alguns reflexos da política externa brasileira do governo Vargas na atuação do CFE, uma vez que desde o início de suas atividades foi determinada a representação do Ministério das Relações Exteriores. Os países que mais investiram nas expedições foram os Estados Unidos e a Alemanha, seguidos da Inglaterra. Em um primeiro momento, houve por parte do governo maior rigor à atuação norte-americana, atestada pela apreensão, em 1938, de 12 caixas contendo, em sua maioria aves, répteis e mamíferos, provenientes da expedição pela Fundação Rockfeller em parceria com o Serviço de Febre Amarela, causando um embaraço diplomático para o Brasil. Posteriormente, já no contexto da 2ª Guerra Mundial e do reposicionamento do Brasil no conflito, e apesar do perfil mais técnico assumido pelo CFE, intensificou-se a fiscalização às iniciativas dos países do Eixo como a Alemanha. Foi o caso da apreensão do material das expedições alemãs do ornitólogo Heinrich Maximilian Friederich Helmut Sick, dos zoólogos Horts Klee e Henrich Maria Wenzel e do etnólogo Kurt Nimuendajú, todas em 1942.