Bianca Mandarino da Costa Tibúrcio
No final do século XIX, a recém-proclamada República possuía um país de grandes dimensões, contudo os “conhecimentos geográficos a respeito desse território eram ainda lacunares e havia o sentimento generalizado da necessidade de maior integração entre o litoral e o interior” (VERGARA, 2010, p.35). A ideia de transferência da Capital Federal para o interior do território brasileiro não era nova. Já no período da Monarquia, Francisco Adolfo Varnhagen (Visconde de Porto Seguro) ressaltava como os motivos para essa mudança a falta de segurança (vulnerabilidade de uma cidade marítima, como era o caso do Rio de Janeiro), maior salubridade e a falta de integração da Corte com as províncias (VARNHAGEN apud VERGARA, 2006, p.914). Além disso, ainda havia a percepção da importância de povoar o interior do território brasileiro.
A instabilidade política e a Revolta da Armada contribuíram para que fossem criadas nos anos seguintes duas Comissões Científicas, que possuíram o astrônomo Luiz Cruls como líder, para determinar e realizar estudos aprofundados da área onde seria construída a Nova Capital Federal do Brasil. Nesse sentido, a primeira expedição denominada Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil foi criada em 1892 e possuída por objetivo deveria delimitar, na região do Planalto Central, a posição astronômica da área demarcada, mas também analisar sua hidrografia, condições climáticas, natureza do terreno e quando possível realizar estudos que julgassem necessários. Apesar dessas dificuldades e atrasos, os trabalhos foram concluídos, mas havia ainda a necessidade de estudos mais detalhados.
Logo, foi criada a segunda expedição intitulada Comissão de Estudos da Nova Capital da União em 1894 que utilizou como base os estudos realizados na viagem anterior, e dento da área previamente demarcada, que era muito ampla, deveria analisar mais profundamente o melhor lugar para fixar a Nova Capital. Deveriam aprofundar os estudos que diziam respeito a salubridade do clima, a qualidade e quantidade das águas e estudos de meios de transportes que fariam a ligação da Nova Capital e o litoral. A segunda Comissão, porém foi marcada por escassez de verbas e seu final foi repleto de substituições e exonerações de seus membros por isso seus trabalhos interrompidos.
PUBLICAÇÕES QUE FORAM RESULTADO DAS PESQUISAS
Como resultados das pesquisas empreendidas pelas Comissões Cruls podemos enumerar o resumo publicado em julho de 1893 no Diário Oficial, texto esse que viria a ser publicado por inteiro no trabalho intitulado Relatório Parcial (1893). No seguinte, deu-se a publicação do texto completo, denominado Relatório da Comissão Explorado do Planalto Central do Brasil. Esse livro contém detalhadamente o trabalho realizado pela Comissão incluindo os diversos relatórios dos membros do grupo incluindo tabelas e fotografias.
Ainda em 1894, a primeira Comissão publicou também o Atlas dos Itinerários, perfis longitudinais e da zona demarcada, livro composto por mapas de todos os itinerários percorridos e posições geográficas de várias cidades. Vinculada a segunda Comissão encontra-se apenas a publicação denominada Relatório Parcial da Comissão de Estudos da Nova Capital da União (1896), nunca tendo sido publicado o relatório final.
A importância das Comissões de Luiz Cruls ao Planalto Central é ressaltada pela historiografia que traça uma relação entre essas expedições do século XIX e o surgimento de Brasília, em 1960. Segundo Vergara, especialmente o relatório final da primeira Comissão foi utilizado como “livro de geografia ao longo da metade do século XX”, editado pela Coleção Brasiliense (VERGARA, 2010, p.46). Deve-se levar em consideração que a região já havia sido visitada anteriormente por outros viajantes. Logo a Comissão não possuía “um aspecto de descobrimento ou “desbravamento dos sertões”” (VERGARA, 2010, p.45). Nesse sentido, os trabalhos realizados pela Comissão devem ser considerados como uma sistematização e classificação da natureza seguindo padrões científicos, tendo em vista que a equipe era composta por especialistas de diferentes áreas (VERGARA, 2010, p.45-46).