Negro, médico Juliano Moreira humanizou o tratamento de pacientes com transtornos mentais.
Em 21 de março comemoramos o dia internacional pela eliminação da discriminação racial. Uma forma de o MAST se engajar nesta luta é apontar que a história da ciência no Brasil foi marcada pelo racismo científico. Raros são os pesquisadores negros lembrados por seus feitos. E os museus, como lugar de preservação e memória, ainda hoje são espaços que refletem essa lógica.
No século XIX, circulava a ideia de uma hierarquia `’natural” entre as “raças” européia, indígena e africana, sustentada pelo discurso científico da época. Os locais que difundiam este conceito eram os museus de história natural e as faculdades de medicina. Uma decorrência disto era a condenação da miscigenação, que segundo os cientistas criaria um tipo humano degenerado, condenando o país ao atraso. A saída era incentivar as políticas de Estado para trazer o imigrante europeu.
Para mostrar que o desenvolvimento nacional também foi feito por homens negros, embora poucos sejam os registros dos que contribuíram para a História da Ciência, no dia de hoje é fundamental lembrar o médico baiano, negro e pai da psicanálise do Brasil: Juliano Moreira (1872-1933). Cientista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Ciências, ele condenava as teorias raciais. Em 1896, em seu discurso ao ingressar como professor da Escola de Medicina da Bahia, afirmava que o problema da degeneração não estava ligado à cor da pele, mas ao ambiente, como os vícios, a subserviência e a ignorância.
Filho de uma empregada doméstica negra, Galdina Joaquina do Amaral, com o português Manoel do Carmo Moreira Júnior, Juliano formou-se pela Escola de Medicina em 1891, lecionou em Salvador até 1902, onde iniciou sua prática como psiquiatra. No ano seguinte assume a direção do Hospício Nacional dos Alienados (termo que se usava para transtornos mentais). Lá, procura introduzir práticas mais humanas com os deficientes mentais, como abolir o uso de camisas de força e tirar as barras das janelas. Teve influência da escola psicopatológica alemã e seu expoente, Emil de Kraepelin, com quem manteve correspondência. Foi também o fundador da Sociedade Brasileira de Neurologia e, nos anos de 1920, acompanhou as palestras e a divulgação da psicanálise de Freud. Morreu de tuberculose com 60 anos em um sanatório em Petrópolis.
Além do Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, em 2023 o MAST participa do Ano Internacional da Ciência Básica para o Desenvolvimento Sustentável. Aproveitamos este momento para lembrar que o racismo é um dos entraves para uma ciência cidadã e para o crescimento saudável do país.
Fonte: Oda, A. M. G. R., & Dalgalarrondo, P.. (2000). Juliano Moreira: um psiquiatra negro frente ao racismo científico. Brazilian Journal of Psychiatry, 22(Braz. J. Psychiatry, 2000 22(4)), 178–179.