Tema

O debate sobre o papel dos museus e das ciências para o desenvolvimento sustentável continua emergente e atual. Não apenas por ser pautado por organismos internacionais – como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Conselho Internacional de Museus (ICOM) – mas também porque os entendimentos originais sobre sustentabilidade têm sido frequentemente abordados de forma reducionista.

A noção de sustentabilidade tem enfrentado críticas desde seu lançamento pelo Relatório Brundtland, em 1987, e sua divulgação a partir da Rio 92. Isso ocorre porque o conceito tem sido associado a diferentes discursos. Se a preocupação ambiental é considerada, nem sempre se dá sob os entendimentos propostos pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD).

Para a CMMAD, não é possível preconizar o desenvolvimento sustentável sem a priorização das necessidades da humanidade, sobretudo dos mais pobres ou vulneráveis. Também não é sustentável priorizar o desenvolvimento social e econômico sem considerar o equilíbrio ambiental. Entre os museus, a busca pela integração entre as perspectivas de desenvolvimento social, preservação ambiental e diversidade cultural tem sido recorrente, especialmente nos últimos 50 anos.

A Declaração de Santiago do Chile, de 1972, que propôs os princípios de base do Museu Integral, já alertava sobre a necessidade de reflexão social sobre o meio material e cultural. Não por coincidência, no mesmo ano foi realizada a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, em Estocolmo.

Tais reflexões têm trazido à tona outras questões fundamentais aos museus e às políticas de preservação do patrimônio cultural e ambiental, notadamente quanto a lugar, território e suas representações. Reconhece-se que esses entendimentos refletem relações de poder, e que são legítimas as disputas sobre o reconhecimento e a representação de territórios específicos.

Mas territórios não são apenas espaços físicos delimitados por garantias legais – nas cidades ou fora delas. São também categorias de significação e ressignificação, e ferramentas de luta no sentido de assegurar a autonomia e a soberania de determinado povo ou sociedade.

Em 2022, uma nova definição, aprovada pelo ICOM, ressaltou que os museus devem ser acessíveis, inclusivos, fomentar a diversidade e a sustentabilidade e – com a participação das comunidades – proporcionar experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento. A abrangência dessa nova definição, em muitos aspectos, reflete preocupações acordadas mundialmente pela Agenda 2030 e pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Partindo dessas percepções, o tema Território e sustentabilidade – Conceitos em disputa pretende memorar, reverberar e amplificar as reflexões das últimas décadas, em suas aproximações sobre o papel dos museus na sociedade e seu desenvolvimento, considerando-os como partícipes fundamentais nos movimentos socioculturais, políticos, ideológicos e de poder.