
Carta de Charles Perrine a Henrique Morize solicitando informações sobre as localidades situadas na faixa de totalidade do eclipse do Sol de maio de 1919.
No início do século XX, os preparativos para uma expedição visando a observação de um eclipse total do Sol tinham início muito antes da data do fenômeno, e envolviam diversos aspectos: o cálculo da faixa onde a totalidade seria visível; o levantamento de dados meteorológicos e logísticos de diferentes locais dentro dessa faixa; a seleção, empréstimo, compra ou fabricação dos instrumentos e demais materiais (incluindo tendas e placas de vidro para fotografias), de acordo com os objetivos científicos; a organização e treinamento das equipes; os contatos com autoridades das linhas de navegação, estradas de ferro, e alfândegas, entre outras providências.
Em meados de 1917, Charles Perrine, diretor do Observatório de Córdoba, solicitou a seu colega Henrique Morize - que ele conhecera em Passa Quatro (MG), por ocasião do eclipse total de 10 de outubro de 1912 -, que providenciasse a coleta de dados meteorológicos na região nordeste do Brasil, onde o eclipse de 1919 poderia ser visto. Sua expectativa era voltar ao país para observá-lo, o que acabou não ocorrendo. Morize preparou um longo relatório contendo informações não apenas sobre o clima da região, mas também sobre os sistemas de transporte, hospedagem, e a população e hábitos locais. Esse documento foi enviado à Sociedade Astronômica da França, por onde foi publicado e divulgado para toda a Europa. Foi Morize quem indicou Sobral como a localidade que reunia as melhores condições para receber as expedições.
O clima de toda a região norte do Ceará é absolutamente salubre. O calor é alto e a temperatura pouco variável. [...] A raça que habita essa região é dotada de notável vitalidade. Apesar da imigração ser praticamente nula, a emigração [ser] intensa, e de terríveis secas se manifestarem a cada dez anos, os números da população crescem constantemente. Isso prova, na minha opinião, que o clima é saudável, e que não se deve temer o contato com uma latitude quase equatorial. Se, portanto, meus colegas quiserem vir ao Ceará observar o eclipse, eles podem faze-lo com toda a segurança.
Logo após a divulgação dos resultados da observação do eclipse em Sobral, comprovando a Teoria da Relatividade, Sir Frank Dyson, Astrônomo Real e diretor do Observatório de Greenwich, enviou carta a Morize. Além de comunicar-lhe pessoalmente o sucesso da expedição inglesa, Dyson agradeceu o colega brasileiro, salientando o fato de que justamente por ser Morize também astrônomo – com experiência na observação de eclipses do Sol, podemos acrescentar –, pode ele planejar e providenciar todo o apoio necessário.
Carta de Charles Perrine a Henrique Morize solicitando informações sobre as localidades situadas na faixa de totalidade do eclipse do Sol de maio de 1919.
Manuscrito de Henrique Morize com informações sobre o clima e sistemas de transporte do Nordeste, com destaque para Sobral (CE) e Caxias (MA).
Manuscrito de Henrique Morize com informações sobre o clima e sistemas de transporte do Nordeste, com destaque para Sobral (CE) e Caxias (MA).
Manuscrito de Henrique Morize com informações sobre o clima e sistemas de transporte do Nordeste, com destaque para Sobral (CE) e Caxias (MA).
Manuscrito de Henrique Morize com informações sobre o clima e sistemas de transporte do Nordeste, com destaque para Sobral (CE) e Caxias (MA).
Carta de Frank Dyson a Henrique Morize comunicando o anúncio da comprovação da Teoria da Relatividade pelas expedições inglesas, e agradecendo a colaboração do astrônomo brasileiro para esse sucesso.