Observatório Nacional
Durante o século XVIII, o Governo Português pouco encorajou a ciência no Brasil. Somente após a vinda de D. João VI, fugido da invasão napoleônica a Portugal e, posteriormente, com D. Pedro I, é que se observou uma mudança acentuada nesse panorama. Observações astronômicas rudimentares foram realizadas desde o início do século XIX, na Escola Militar, no Rio de Janeiro, mas somente em 15 de outubro de 1827 o Imperador determinou a criação, por decreto, de um observatório astronômico com o objetivo de produzir dados astronômicos e meteorológicos, bem como ministrar cursos de astronomia para os estudantes das Academias Militar e Naval.
Por motivos diversos, o Observatório Astronômico somente iniciou suas atividades em meados do século XIX. Sediado na Escola Militar, seu primeiro diretor foi Soulier de Sauve, que morreu antes da ocupação em novo local, no Morro do Castelo (igreja jesuítica inacabada - Rio de Janeiro), ser finalizada.
Em 1846, definiu-se por decreto o nome oficial de Imperial Observatório do Rio de Janeiro, estabelecendo ainda como a instituição deveria funcionar. Eram suas atribuições: fazer observações astronômicas e meteorológicas; formar e treinar os alunos da Escola Militar e da Academia da Marinha; publicar um anuário astronômico; fornecer a hora certa para os navios fundeados no porto.
Após o final da Guerra do Paraguai (1870), D. Pedro II, imperador interessado em astronomia, reorganiza o Observatório e coloca o astrônomo francês Emanuel Liais como diretor. Inicia-se aqui um período muito profícuo para o Observatório, com os trabalhos produzidos na instituição sendo apresentados por seu diretor nas academias européias.
Liais foi substituído por seu principal colaborador, o engenheiro belga Luiz Cruls. Destaca-se nesse período as expedições científicas por ele realizadas: à Punta Arenas, para a observação da passagem de Vênus pelo disco solar (1882); ao planalto Central, para determinação do quadrilátero de Brasília, futura capital do país (1890); à fronteira Peru/Brasil/Bolívia, para determinação do local exato da nascente do Rio Javari, determinante no conflito entre esses países (1898). Também nesse período, em 1887, o Observatório foi convidado a participar de outro grande evento internacional, também organizado pela França, produzir o mapa completo da abóbada celeste (Projeto Carte du Ciél). O instrumento científico padrão necessário para esse intuito, uma luneta equatorial fotográfica, chegou a ser adquirido, no entanto, a proclamação da República viria a interromper a trajetória da instituição inviabilizando a sua contribuição ao projeto. O instrumento jamais foi montado em seu pavilhão original.
Com a República, passa a se chamar Observatório do Rio de Janeiro e, em 1909, a Observatório Nacional, sendo sua principal função à época a organização de um serviço meteorológico para todo o território nacional, a contra-gosto de seu diretor Henrique Morize. Muitos instrumentos relacionados à meteorologia foram adquiridos pelo Observatório e fazem parte da coleção do MAST em função dessa atividade.
Controvérsias sobre a instalação do Observatório no Morro do Castelo remontavam a meados do século XIX. Relatórios de seus diretores insistiam sobre a impropriedade do local, onde a instabilidade do terreno impedia a instalação de instrumentos astronômicos de grande porte, o que prejudicava a sua atividade. Fatores políticos misturaram-se à necessidade de modernização da cidade e acabaram por determinar, nesse período, a escolha do Morro de São Januário, no aristocrático bairro de São Cristóvão, para a construção da nova sede do Observatório.
Inicia-se então, em 1913, a edificação do novo conjunto arquitetônico. As obras são concluídas em 1920 e no ano seguinte o Observatório instala-se no local. Importantes atividades técnicas e de pesquisa, realizadas sob a responsabilidade do Observatório, podem ser destacadas: a determinação da hora oficial no país; a previsão do tempo; as efemérides astronômicas, a demarcação das fronteiras brasileiras, observações sistemáticas dos eclipses do Sol no território nacional; o mapeamento magnético do solo brasileiro e muitos outros. Um grande número de instrumentos científicos foi utilizado nessas tarefas, constituindo hoje uma das coleções de observatórios mais importantes do mundo.
Houve por parte de quase todas as diretorias um esforço de suprir o Observatório com o que havia de mais moderno. Esta foi uma herança das primeiras diretorias, ainda no período imperial, que conseguiram inserir o trabalho do Observatório no cenário internacional. As diretorias tinham clareza das limitações e das necessidades, tanto institucionais quanto financeiras, para a prática de uma nova astronomia, mas as dificuldades eram muitas.
Os instrumentos da coleção do Museu de Astronomia nos mostram hoje, por si só e por seu uso, que instituição era o Observatório Nacional. Que papel era almejado e o que de fato foi a sua prática. A análise desses instrumentos nos mostra o que podia ser realizado, e permite inferir sobre a evolução ou, em alguns casos, a estagnação da prática dos métodos utilizados. O Observatório Nacional permanece como centro de pesquisa ativo até os dias de hoje, situado no mesmo sítio histórico, em construção atual inaugurada em 1985.